Desde os primeiros casos de covid-19 na China, em 2019, as evidências científicas apontavam para um risco significativo de saúde pública. O vírus SARS-CoV-2 demonstrou capacidade de propagação rápida, inclusive por indivíduos assintomáticos, e potencial para causar complicações graves, como pneumonia severa, síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e falência de múltiplos órgãos. Ainda em janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência de saúde pública de importância internacional, e em março do mesmo ano caracterizou a covid-19 como pandemia.
No Brasil, medidas iniciais foram fundamentais para estabelecer o nível de risco, como a Portaria nº 188 do Ministério da Saúde, de fevereiro de 2020, que declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). Porém, diferentemente de outros países, a resposta do governo federal foi marcada por desinformação que minimizava os riscos da pandemia, alimentando percepções equivocadas sobre a transmissibilidade e a gravidade da doença. Discursos que desacreditavam medidas de saúde pública, como o uso de máscaras e o distanciamento social, enfraqueceram a adesão às estratégias de prevenção e contribuíram para o agravamento da crise sanitária no país.
Enquanto sistemas de saúde ao redor do mundo enfrentavam sobrecarga por falta de leitos, equipamentos e profissionais, no Brasil, agentes públicos e privados desconsideravam alertas científicos, propagavam desinformação e negligenciavam a gravidade da situação. Essa postura resultou na amplificação de riscos e em um impacto devastador na saúde pública, na economia e no bem-estar social, especialmente entre as populações mais vulneráveis.
Além dos efeitos agudos da covid-19, surgiram evidências de sequelas de longo prazo, conhecidas como covid longa. Apesar de os estudos revelarem que a vacinação desempenha papel fundamental na prevenção dessas sequelas e na redução da gravidade da doença, a minimização da covid-19 e a rejeição às medidas de controle da doença por agentes públicos e privados permanecem até os dias de hoje.
A avaliação de risco é uma ferramenta fundamental para orientar tanto as políticas de saúde pública quanto as decisões individuais. No entanto, as evidências coletadas neste acervo indicam que, desde o início da pandemia, no Brasil, diferentemente de outros países, o governo federal e outros agentes públicos e privados divulgaram desinformação subestimando os riscos da pandemia de covid-19 em manifestações públicas que veiculavam concepções equivocadas sobre o grau de transmissibilidade, a gravidade e as medidas de saúde pública e de comportamento individual, fundamentais para prevenção, proteção da população e sobrevivência coletiva.