Descrição
Em live feita em seu canal no Youtube, Silas Malafaia usa relatos de espectadores publicados nos comentários para estimular o uso do “kit covid” — um conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 — como tratamento precoce. O pastor diz estar lendo “centenas e centenas” de comentários de seguidores dizendo: “Eu usei esse kit e fui salvo”.
Até essa data, registravam-se 84.082 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
Em live feita em seu canal no Youtube, Silas Malafaia usa relatos de espectadores publicados nos comentários para estimular o uso do “kit covid” — um conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 — como tratamento precoce. O pastor diz estar lendo “centenas e centenas” de comentários de seguidores dizendo: “Eu usei esse kit e fui salvo”.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
84082
Dados da fonte de informação
Data da publicação
23 de julho de 2020
Título original
COVID-19 - TRATAMENTO PRECOCE SALVA VIDAS
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
Canal Silas Malafaia Oficial
Link para o material original
O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
Em uma live transmitida em 23 de julho de 2020, o pastor Silas Malafaia defendeu o uso do chamado “kit covid”, com ênfase no medicamento hidroxicloroquina, afirmando que centenas de pessoas estavam utilizando o tratamento precoce e que “nenhuma delas morreu”. No entanto, é importante destacar que Silas Malafaia não tem formação em nenhuma área da saúde, o que o desqualifica para fazer afirmações sobre tratamentos médicos, especialmente em um contexto de pandemia e sem embasamento científico. Além disso, depoimentos e relatos individuais são evidências anedóticas, que não têm validade científica para orientar práticas médicas. A divulgação de informações não comprovadas pode ter consequências graves para a saúde pública, induzindo pessoas a adotarem tratamentos ineficazes e a negligenciarem cuidados médicos adequados.
Na data da transmissão da live já existiam diversos estudos robustos evidenciando a falta de eficácia da hidroxicloroquina e de outros medicamentos do “kit covid”, como a ivermectina e a azitromicina, no tratamento da covid-19. Além disso, esses medicamentos apresentavam potenciais efeitos adversos que, combinados com a doença, poderiam agravar o quadro clínico dos pacientes. Em maio de 2020, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) publicou uma revisão das evidências disponíveis sobre o uso de hidroxicloroquina e cloroquina na covid-19, concluindo que as evidências eram fracas e recomendando cautela no uso desses medicamentos. A OPAS destacou que, apesar de seu uso por alguns médicos, não havia comprovação científica robusta de sua eficácia contra o SARS-CoV-2 (coronavírus causador da covid-19).
Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine em 2020 mostrou que o uso de hidroxicloroquina, isoladamente ou em combinação com azitromicina, não reduz a mortalidade em pacientes hospitalizados com covid-19. Ao contrário, o uso desses medicamentos foi associado a um maior risco de complicações cardiovasculares e hepáticas. Em junho de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspendeu os testes com hidroxicloroquina devido à falta de eficácia e aos riscos potenciais. Além disso, em julho de 2020, a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) publicaram um consenso na Revista Brasileira de Terapia Intensiva, desaconselhando o uso de hidroxicloroquina para a covid-19. A recomendação foi baseada em uma revisão sistemática que concluiu que não havia evidências robustas que comprovassem a eficácia do medicamento no tratamento da doença.
A comunidade científica e a OMS alertaram repetidamente que as evidências que embasaram o uso de cloroquina e hidroxicloroquina na covid-19 eram frágeis, provenientes de estudos com falhas metodológicas. Em 2025, o artigo científico que inicialmente sugeriu o uso da hidroxicloroquina para a covid-19, liderado por Didier Raoult e publicado em 2020, foi retratado pela revista International Journal of Antimicrobial Agents devido à má conduta científica. Esse episódio reforça a importância de basear decisões médicas em estudos rigorosos e confiáveis.
No caso da ivermectina, até julho de 2020, não havia nenhum estudo clínico robusto que demonstrasse sua eficácia e segurança no tratamento da covid-19. Posteriormente, a OMS publicou uma recomendação, baseada em dados de 16 ensaios clínicos, afirmando que não havia certeza de que o medicamento reduziria a mortalidade ou a gravidade da doença, sendo necessários mais estudos para avaliar seu potencial terapêutico.
Apesar do grande número de informações disponíveis, evidências científicas robustas, consensos da comunidade científica, alertas da OMS acerca da falta de eficácia e dos potenciais riscos associados ao “kit covid”, houve uma insistência nesse tratamento, com base principalmente em relatos de médicos e pacientes que usaram o tratamento, embora esse tipo de relato não seja validado como evidência de eficácia e segurança. Essa insistência na adoção de protocolos ineficazes podem ter minado a confiança na ciência e nas entidades de saúde como a OMS, prejudicando os esforços coletivos eficazes e necessários para controlar a pandemia de covid-19.
Fontes
Bula da Hidroxicloroquina | Cavalcanti AB et al. Hydroxychloroquine with or without azithromycin in mild-to-moderate covid-19. New England Journal of Medicine. 2020. | Falavigna M et al. Diretrizes para o tratamento farmacológico da covid-19. Consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Rev Bras Ter Intensiva. 2020. | Fihn SD et al. Caution needed on the use of chloroquine and hydroxychloroquine for coronavirus disease 2019. JAMA Netw Open. 2020. | Nota Pública: CNS alerta sobre os riscos do uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. 22 mai 2020. | Notice of retraction. Gautret P et al. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of covid-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents. 2020 | PAHO, Pan American Health Organization. Covid-19: Chloroquine and hydroxychloroquine research. Rapid Review. 8 mai 2020. | PAHO, Pan American Health Organization. Timeline of WHO’s Response to Covid-19. 2 jul 2020. | WHO, World Health Organization. WHO advises that ivermectin only be used to treat covid-19 within clinical trials. 31 mar 2021.