Descrição
O médico Roberto Zeballos questiona a gravidade da variante delta da covid-19, discute a imunidade gerada pela infecção natural e faz afirmações sobre a transmissibilidade e letalidade do vírus. Ele apresenta argumentos que minimizam os riscos da pandemia e critica medidas adotadas para o controle da doença.
Até essa data, registravam-se 575.742 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
O médico Roberto Zeballos questiona a gravidade da variante delta da covid-19, discute a imunidade gerada pela infecção natural e faz afirmações sobre a transmissibilidade e letalidade do vírus. Ele apresenta argumentos que minimizam os riscos da pandemia e critica medidas adotadas para o controle da doença.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
575742
Dados da fonte de informação
Data da publicação
24 de agosto de 2021
Título original
Dr. Roberto Zeballos – Transmissibilidade, Imunidade e Letalidade da Variante Delta
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
Médicos Pela Vida
Link para o material original
Link para archive.org (way back machine ou outra plataforma)
O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
Em agosto de 2021, o médico Roberto Zeballos publicou vídeo em que fez alegações falsas e sem respaldo científico sobre a imunidade de rebanho e a variante delta do SARS-CoV-2.
Embora o médico tenha afirmado que o contágio natural seria mais eficaz para alcançar imunidade de rebanho do que as vacinas, as evidências científicas não sustentam essa afirmação. A teoria de que a imunidade de rebanho pode ser alcançada pela disseminação generalizada do vírus carece de respaldo científico e enfrenta sérios problemas éticos. No caso da covid-19, mesmo em 2020, já se sabia que a infecção natural não garantia proteção duradoura contra reinfecções. Relatos de reinfecções, muitas vezes mais graves que os casos iniciais, demonstraram que a imunidade por contágio não deveria ser recomendada e sequer poderia ser aventada como possibilidade de conter a pandemia.
Além disso, permitir a disseminação descontrolada do vírus teria consequências devastadoras, como o aumento no número de mortes e a possibilidade de desenvolvimento de sequelas e covid longa. O aprendizado da pandemia e as evidências científicas já apontavam que expor a população ao vírus sem controle poderia resultar em um número desnecessário de doentes, sobrecarregando os sistemas de saúde e elevando a mortalidade. Ainda em 2020 já havia relatos de efeitos persistentes da covid-19, mesmo em casos leves. Hoje sabemos que a covid longa está associada a mais de 200 sintomas, acomete diversos órgãos e pode causar impacto significativo na qualidade de vida. A única estratégia comprovadamente eficaz para alcançar a imunidade coletiva é por meio da vacinação, que reduz casos graves, hospitalizações e mortes, protegendo também os mais vulneráveis.
Apesar da afirmação de Zeballos de que a variante delta “mata pouco”, os dados reais mostram uma história diferente. Essa variante, identificada pela primeira vez na Índia no final de 2020, foi responsável por uma onda com alto número de casos e mortes naquele país. No Brasil, o aumento da vacinação foi fundamental para reduzir mortes entre os idosos, que representavam a maior parte dos casos graves. Em julho de 2021, mais de 60% dos idosos brasileiros já estavam completamente vacinados, e a cobertura vacinal crescente contribuiu para a manutenção da queda na mortalidade. Nos países com alta cobertura vacinal, como Reino Unido, Uruguai e EUA, já se observava redução significativa de óbitos antes da circulação da delta. Portanto, o fato de em agosto, com o aumento no número de casos causados pela variante delta, a mortalidade não ter aumentado deve-se mais à mortalidade já estar seguindo uma tendência de queda, principalmente, por conta do avanço da vacinação no país.
Devido às mutações que conferiam escape da imunidade, a variante delta conseguiu ir avançando em diversos países, principalmente, entre pessoas não vacinadas. Há relatos e estudos mostrando o aumento de casos de internação e a elevação no risco de internação pela delta, nos EUA e em países da Europa, como a Dinamarca e a Inglaterra. Nesse contexto, casos de reinfecção foram observados, até mesmo em pessoas vacinadas, porém, as evidências mostram maior hospitalização entre pessoas não vacinadas. É importante ressaltar que a imunidade gerada pela infecção natural não garante imunidade duradoura. Já a imunidade conferida pela vacinação pode ser reforçada com doses adicionais, proporcionando maior proteção contra variantes emergentes. É enganoso, portanto, afirmar que a delta seria responsável por promover imunidade de rebanho ou pela redução de óbitos no Brasil. É fato que a diminuição nas mortes, especialmente entre os idosos, observada a partir de junho de 2021, foi impulsionada pela vacinação. Em junho de 2021, mais de 12% da população brasileira estava completamente imunizada e quase 35% já havia recebido ao menos uma dose. A proteção conferida pelas vacinas foi o principal fator na redução de casos graves e mortes, como demonstrado nos dados nacionais e internacionais.
As alegações de Roberto Zeballos não têm base científica e contradizem as evidências disponíveis na época de seu discurso. A imunidade de rebanho por contágio não é uma estratégia viável nem ética, e a vacinação foi — e continua sendo — a principal ferramenta para controlar a pandemia, reduzir mortes e proteger a população contra a covid-19. A disseminação de informações falsas durante uma crise de saúde pública é uma conduta grave, pois coloca vidas em risco. A tomada de decisão nas políticas de saúde devem ser guiadas pelas evidências científicas, especialmente em uma pandemia, para que toda a coletividade seja protegida.
Fontes
Bager P, et al. Hospitalisation associated with SARS-CoV-2 delta variant in Denmark. Lancet Infect Dis. 2021. | Bast E, et al. Increased risk of hospitalisation and death with the delta variant in the USA. Lancet Infect Dis. 2021. | Biswas S. Coronavírus: quão agressiva é a variante que assola a Índia e por que sabemos tão pouco sobre ela. BBC News Brasil. 28 abr 2021. | Brasil. Ministério da Saúde. Covid-19 no Brasil. | Lacerda CD, Chaimovich H. O que é imunidade de rebanho e quais as implicações? 6 ago 2020. | Lisboa V. Fiocruz: mortes mantêm queda, mas Delta requer cautela. Agência Brasil. 25 ago 2021. | Modelli L et al. Queda das mortes por covid aponta indício do efeito da vacinação no Brasil; veja o que se sabe e os alertas. Bem estar, G1. 2 jul 2021. | Tavares V. Imunidade de rebanho. Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio. Fiocruz. 3 nov 2020. | Twohig KA et al.; Covid-19 Genomics UK (COG-UK) Consortium. Hospital admission and emergency care attendance risk for SARS-CoV-2 delta (B.1.617.2) compared with alpha (B.1.1.7) variants of concern: a cohort study. Lancet Infect Dis. 2022. | Victora PC et al. Estimating the early impact of vaccination against covid-19 on deaths among elderly people in Brazil: analyses of routinely-collected data on vaccine coverage and mortality. EClinicalMedicine. 2021. | WHO World Health Organization. WHO Director-General's opening remarks at the media briefing on covid-19. 12 out 2020.