Descrição
Em evento do Ministério da Saúde, a Secretária da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Mayra Pinheiro, apresenta o aplicativo TrateCov, e recomenda que todos os profissionais da saúde adotem o “tratamento precoce” – uma combinação de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 – e propõe que o sistema seja implementado em todos os municípios do país.
Até essa data, registravam-se 203.580 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
Em evento do Ministério da Saúde, a Secretária da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Mayra Pinheiro, apresenta o aplicativo TrateCov, e recomenda que todos os profissionais da saúde adotem o “tratamento precoce” – uma combinação de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 – e propõe que o sistema seja implementado em todos os municípios do país.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Temas
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
203580
Dados da fonte de informação
Data da publicação
11 de janeiro de 2021
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
Perfil do Ministério da Saúde
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O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
O “tratamento precoce” inclui o uso dos medicamentos cloroquina/hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, entre outros. Esse esquema foi primeiramente defendido, devido à presença de estudos que observaram o efeito in vitro dessas medicações sobre o SARS-CoV-2. Todavia, boa parte das evidências primeiramente apresentadas continham falhas metodológicas e não eram devidamente revisadas pelos pares. Desde 2020, diversas organizações de saúde, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS), assim como a comunidade científica, vinham alertando para a baixa qualidade das evidências que sustentavam o uso desses medicamentos do tratamento precoce na covid-19. Na época, estudos mais robustos e com metodologias adequadas não encontraram evidências de que o tratamento precoce traria benefício para os pacientes acometidos pela covid-19.
Apesar disso, o Ministério da Saúde optou por desenvolver o aplicativo TrateCov, que utilizava um algoritmo, sem embasamento científico, para permitir o diagnóstico rápido de covid-19 e, consequentemente, incentivar o tratamento na fase precoce, o que foi defendido por Mayra Pinheiro como uma forma de evitar as formas graves da doença e a lotação dos hospitais, além de prevenir novos óbitos. Porém, esse aplicativo, além de não permitir uma avaliação clínica individual do paciente, incentivava a automedicação e a utilização de um tratamento não comprovado cientificamente, que, além de não ser eficaz para a covid-19, também poderia causar efeitos adversos graves, aumentando a mortalidade. À época do discurso de Mayra Pinheiro, as evidências científicas de que o tratamento precoce não funcionava eram sólidas e havia forte recomendação contra a utilização desses medicamentos na covid-19.
Dessa forma, fica evidente que sua fala contém não apenas desinformação acerca da segurança desse aplicativo, como também um discurso anticiência, por disseminar e permitir que a população brasileira tenha acesso a um tratamento ineficaz e inseguro. Denúncias de cientistas, políticos e da imprensa, na época do lançamento do TrateCov, mostravam que o aplicativo conduzia qualquer caso, independentemente dos sintomas, à prescrição do tratamento precoce. Especialistas observaram falhas metodológicas no estudo que embasou a criação do aplicativo TrateCov. Até mesmo o Conselho Federal de Medicina (CFM) se opôs ao uso do aplicativo, solicitando que fosse suspenso. Diante da repercussão negativa, dias após o lançamento, o governo tirou o TrateCov do ar, sob alegação de que um hacker tinha colocado o protótipo indevidamente no site do Ministério da Saúde, embora, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), não tenham sido identificados indícios de que tenha havido violação do código-fonte do TrateCov.
Fontes
CFM Conselho Federal de Medicina. Esclarecimento à imprensa. 2021. | Fihn SD et al. Caution needed on the use of chloroquine and hydroxychloroquine for coronavirus disease 2019. JAMA Netw Open. 2020. | Gragnani J. Covid: estudo que serviu de base para app TrateCov tem falhas de metodologia - BBC News Brasil. 25 mai 2021. | Landim R. Em simulação, TrateCov indica cloroquina para bebê com febre e congestão nasal. CNN Brasil. 25 mai 2021. | Nota Pública: CNS alerta sobre os riscos do uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. 22 mai 2020. | PAHO Pan American Health Organization. COVID-19: Chloroquine and hydroxychloroquine research. Rapid Review. 8 mai 2020. | TCU Tribunal de Contas da União. Aplicativo TrateCov recomendava tratamento precoce da covid-19. 4 ago 2021.