Descrição
A Secretária da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, em evento do Ministério da Saúde no Amazonas, destaca a importância de todos os presentes assistirem à palestra do infectologista Ricardo Zimerman, para que as autoridades saiam do evento conscientes da necessidade inadiável da adoção do tratamento precoce. Mesmo sem evidências científicas confiáveis, ela afirma que as medicações usadas são seguras e eficazes para impedir a progressão da doença.
Até essa data, registravam-se 203.580 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
A Secretária da Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, em evento do Ministério da Saúde no Amazonas, destaca a importância de todos os presentes assistirem à palestra do infectologista Ricardo Zimerman, para que as autoridades saiam do evento conscientes da necessidade inadiável da adoção do tratamento precoce. Mesmo sem evidências científicas confiáveis, ela afirma que as medicações usadas são seguras e eficazes para impedir a progressão da doença.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Temas
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
203580
Dados da fonte de informação
Data da publicação
11 de janeiro de 2021
Título original
Apresentação do Plano Estratégico de Enfrentamento à covid-19 no Amazonas.
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
Ministério da Saúde
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O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
Em 11 de janeiro de 2021, durante a apresentação do Plano Estratégico de Enfrentamento à Covid-19 no Amazonas, a Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, fez uma defesa enfática do chamado “tratamento precoce”, destacando uma suposta necessidade de utilização desse protocolo a partir de uma palestra do médico infectologista Ricardo Zimmermann.
As declarações de Pinheiro, no entanto, contrastavam com o consenso da comunidade científica e de organizações internacionais de saúde, que já haviam alertado para a falta de evidências científicas robustas que sustentassem a eficácia do tratamento precoce no combate à covid-19.
O “tratamento precoce” incluía medicamentos como cloroquina/hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, entre outros. Esse esquema foi inicialmente defendido com base em estudos que observaram efeitos dessas substâncias sobre o SARS-CoV-2 (vírus causador da covid-19), porém, a partir de metodologias experimentais não adequadas. A maior parte das evidências apresentadas inicialmente tinha falhas metodológicas significativas e não havia passado por revisões criteriosas por pares.
Ainda em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a comunidade científica alertaram para a baixa qualidade das evidências que sustentavam o uso desses medicamentos para tratar a covid-19. Estudos mais robustos e metodologicamente rigorosos sequer encontraram benefícios associados ao tratamento precoce em pacientes com a doença e que haviam utilizado tal protocolo. Em 2025, houve a retratação do artigo científico sobre o estudo liderado por Didier Raoult, publicado em 2020, que inicialmente sugeriu alguma eficácia da hidroxicloroquina na covid-19. A remoção do artigo da revista International Journal of Antimicrobial Agents se deu por má conduta científica.
Em outubro de 2020, a OMS divulgou os resultados de um estudo coordenado pela própria entidade que avaliou o uso da hidroxicloroquina contra a covid-19. A pesquisa não encontrou redução significativa na mortalidade, nem na necessidade de ventilação mecânica, nem no tempo de internação entre os pacientes tratados.
Além disso, o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina pode oferecer riscos devido aos seus efeitos adversos graves que podem complicar o quadro clínico de pacientes com covid-19. O medicamento é associado a arritmias cardíacas, conforme está descrito em sua bula, e, portanto, isso poderia agravar as alterações cardiovasculares já provocadas pela própria covid-19. Nesse contexto, a recomendação desses medicamentos não apenas carecia de respaldo científico quanto à eficácia no tratamento da covid-19, mas também apresentava sérios riscos à segurança dos pacientes, uma vez que as evidências sobre sua eficácia e segurança no manejo da doença eram insuficientes e pouco robustas.
Fontes
Bula da Hidroxicloroquina | Fihn SD et al. Caution needed on the use of chloroquine and hydroxychloroquine for coronavirus disease 2019. JAMA Netw Open. 2020. | Nota Pública: CNS alerta sobre os riscos do uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. 22 mai 2020. | Notice of retraction. Gautret P et al. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of covid-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents. 2020 | PAHO, Pan American Health Organization. Covid-19: Chloroquine and hydroxychloroquine research. Rapid Review. 8 mai 2020. | WHO Solidarity trial consortium. Repurposed antiviral drugs for covid-19 –interim WHO SOLIDARITY trial results. medRxiv. 15 out 2020.