Descrição
Luciano Hang, dono das Lojas Havan, defende o uso de medicamentos preventivos sem comprovação científica em um vídeo no Instagram. Ele questiona se o tratamento precoce poderia ter salvado sua mãe e critica a própria decisão de não recorrer a esse protocolo. Em seguida, compartilha um vídeo de profissionais da saúde, incluindo a Secretária da Saúde de Porto Seguro, Raíssa Soares, e o cardiologista Guili Pech, que apoiam o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, mesmo sem estudos contundentes que comprovem sua eficácia contra a covid-19.
Até essa data, registravam-se 231.012 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
Luciano Hang, dono das Lojas Havan, defende o uso de medicamentos preventivos sem comprovação científica em um vídeo no Instagram. Ele questiona se o tratamento precoce poderia ter salvado sua mãe e critica a própria decisão de não recorrer a esse protocolo. Em seguida, compartilha um vídeo de profissionais da saúde, incluindo a Secretária da Saúde de Porto Seguro, Raíssa Soares, e o cardiologista Guili Pech, que apoiam o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina, mesmo sem estudos contundentes que comprovem sua eficácia contra a covid-19.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
231012
Dados da fonte de informação
Data da publicação
6 de fevereiro de 2021
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
Luciano Hang
O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
O empresário Luciano Hang lamenta a morte de sua mãe por covid-19 afirmando que deveria ter feito uso do “tratamento preventivo" (mais conhecido como tratamento precoce) para poder salvar sua vida. Em seguida, a então secretária de Saúde de Porto Seguro e o médico cardiologista Guili Pech defendem esse tratamento, afirmando que a hidroxicloroquina não causa arritmias e que a incidência é maior em pacientes com covid-19 do que naqueles que fazem uso desse medicamento. No entanto, essa afirmação não é sustentada pelas evidências científicas, pois os estudos mostraram que os pacientes com covid-19 que fizeram uso de hidroxicloroquina tiveram maior risco de desenvolver prolongamento do intervalo QT do que aqueles que não fizeram. O prolongamento de QT é um achado no eletrocardiograma e está associado a arritmias malignas e também à morte súbita. A cada 10 milissegundos de aumento no intervalo em questão, o risco de desenvolvimento de taquicardia ventricular, que é uma arritmia, aumenta de 5% a 7%.
Ademais, a cloroquina e a hidroxicloroquina são medicamentos originalmente antimaláricos, utilizados de forma ampla contra a malária desde 1930, além de também serem prescritos para doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico. Seus efeitos adversos são conhecidos e descritos na literatura e na bula do medicamento, incluindo o prolongamento do intervalo QT, o qual aumenta o risco de desenvolvimento de arritmias malignas.
O médico Guili Pech também menciona um estudo que supostamente usou uma dose de 12 g de cloroquina, mas essa informação é imprecisa, pois, de fato, essa dose é mais alta que a tolerável, que é de 5 g; portanto, esse tipo de estudo não seria sequer aprovado por um comitê de ética. Além disso, desde 2020, as associações médicas estabeleceram a importância de fazer uma avaliação cardiológica em pacientes com doenças cardiovasculares ou com fatores de risco para desenvolvê-las, como em pacientes diabéticos e hipertensos. Por isso, a realização de eletrocardiograma para esses pacientes é pertinente, ao contrário do que ele afirma.
A disseminação de desinformação sobre a segurança e a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina influenciou a opinião pública, estimulando o uso irresponsável desses medicamentos. Esse cenário comprometeu as medidas de controle da doença baseadas em evidências científicas e ampliou a desconfiança da população em relação às autoridades sanitárias e à ciência.
Fontes
Camanho LEM. Revisitando o Intervalo QT: um antigo marcador para uma nova doença? Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2023. | Cavalcanti AB et al. Hydroxychloroquine with or without azithromycin in mild-to-moderate covid-19. New England Journal of Medicine. 2020. | Jankelson L et al. QT prolongation, torsades de pointes, and sudden death with short courses of chloroquine or hydroxychloroquine as used in covid-19: a systematic review. Heart Rhythm. 2020. | National Center for Biotechnology Information. PubChem Compound Summary for CID 2719, Chloroquine. PubChem. | Rey LD et al. Prolongamento do intervalo QT do eletrocardiograma em pacientes reumáticos usando antimaláricos. Revista Brasileira de Reumatologia. 2003. | Tleyjeh IM et al. Cardiac toxicity of chloroquine or hydroxychloroquine in patients with covid-19: a systematic review and meta-regression analysis. Mayo Clin Proc Innov Qual Outcomes. 2021.