Governador do Amazonas, Wilson Lima, apoia tratamento precoce em evento do Ministério da Saúde

Conteúdo sobre o que diz a Ciência

Em 11 de janeiro de 2021, durante a apresentação do Plano Estratégico de Enfrentamento à Covid-19 no Amazonas, o governador do estado, Wilson Lima (União Brasil), defendeu o uso do tratamento precoce contra a covid-19. Em sua fala, Lima afirma que, em cidades do interior do Amazonas, ao ir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS), as pessoas já saíam com “seu saquinho de medicamentos para poder fazer esse tratamento”.
O “tratamento precoce” incluía medicamentos como cloroquina/hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, entre outros. Esse esquema foi inicialmente defendido com base em estudos que observaram efeitos in vitro dessas substâncias sobre o SARS-CoV-2. Contudo, a maior parte das evidências apresentadas inicialmente tinha falhas metodológicas significativas e não havia passado por revisões criteriosas por pares.
Desde 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e a comunidade científica vinham alertando para a baixa qualidade das evidências que sustentavam o uso desses medicamentos para tratar a covid-19. Estudos mais robustos e metodologicamente rigorosos não encontraram benefícios associados ao tratamento precoce para pacientes com a doença.
Em outubro de 2020, meses antes do evento no qual Lima fez a defesa dos medicamentos, a OMS divulgou os resultados de um estudo coordenado pela entidade, que avaliou quatro medicamentos contra a covid-19, entre os quais estava a hidroxicloroquina. A pesquisa não encontrou redução significativa na mortalidade, nem na necessidade de ventilação mecânica, nem no tempo de internação entre os pacientes tratados com o medicamento. O objetivo principal era verificar o impacto do tratamento na mortalidade, especialmente em casos graves, mas os resultados mostraram que não houve benefícios clínicos significativos.
Cabe destacar também que alguns estudos já relatavam que o uso da hidroxicloroquina poderia representar um aumento no risco de arritmias devido aos eventos adversos descritos na bula do medicamento, os quais poderiam agravar as alterações cardiovasculares já provocadas pela covid-19, piorando o quadro clínico de pacientes com a doença em estágio moderado a grave. Devido ao potencial aumento no risco de mortalidade, a recomendação desse tipo de medicamento não só carecia de evidências científicas robustas que comprovassem sua eficácia no tratamento da covid-19, como também não apresentava respaldo suficiente em relação à segurança para ser utilizado em pacientes acometidos pela doença.