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Descrição
Durante a inauguração da Ferrovia Norte-Sul, em Goiás, Bolsonaro declara que os brasileiros devem deixar de “frescura” e “mimimi” em função dos mortos pela covid-19.
Até essa data, registravam-se 260.970 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
Durante a inauguração da Ferrovia Norte-Sul, em Goiás, Bolsonaro declara que os brasileiros devem deixar de “frescura” e “mimimi” em função dos mortos pela covid-19.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
260970
Dados da fonte de informação
Data da publicação
4 de março de 2021
Título original
#AoVivo: Inauguração da Ferrovia Norte-Sul, trecho São Simão/GO - Estrela d’Oeste/SP
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
CanalGov
Link para o material original
O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
Em declaração pública, o então presidente Jair Bolsonaro incitou a população a “deixar de frescura e mimimi”, caracterizando o isolamento social como covardia. O posicionamento contrariava as recomendações sanitárias globais e ignorava o cenário de crescente mortalidade por covid-19 no Brasil.
Com a declaração da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020, o isolamento social emergiu como estratégia fundamental para conter a disseminação do SARS-CoV-2. Estudos do Imperial College de Londres, publicados ainda em março daquele ano, demonstravam por modelagem matemática que intervenções não farmacológicas combinadas seriam importantes para reduzir a transmissão em um cenário de incerteza sobre o vírus.
As recomendações de implementação de isolamento social para o controle de doenças infectocontagiosas são embasadas por evidências científicas acumuladas por estudos de epidemias e pandemias anteriores. É plausível que doenças transmitidas de pessoa a pessoa tenham como medida de prevenção o isolamento social. A transmissão da doença por assintomáticos e pré-sintomáticos, confirmada já nos primeiros meses da pandemia, tornou o isolamento amplo (e não apenas de casos confirmados) uma estratégia necessária. O lockdown, uma medida de isolamento mais restritiva, se mostrou necessário em períodos de aumento descontrolado no número de casos novos da covid-19, sendo respaldado pela ciência como forma de achatar a curva de transmissão e evitar que o sistema de saúde entrasse em colapso pelo excesso de pacientes infectados.
Estudos realizados em diversos países mostraram que medidas como o fechamento de escolas, locais de trabalho e a aplicação de lockdown contribuíram para reduzir transmissão do vírus. Modelagens matemáticas indicaram que o isolamento social, quando implementado de forma ampla e precoce, foi capaz de reduzir a taxa de reprodução do SARS-CoV-2, diminuindo novos casos e óbitos. Além disso, a proibição de aglomerações ajudou a evitar surtos localizados que poderiam sobrecarregar os sistemas de saúde.
É importante ressaltar que qualquer medida de isolamento, incluindo o lockdown, não elimina completamente a transmissão e o risco de infecção, mas reduz o contágio ao limitar contatos sociais e aglomerações. Trata-se de uma medida coletiva, cujo sucesso depende também da adesão populacional. Mesmo em situações de isolamento rigoroso, algumas pessoas precisam sair de casa, por necessidade ou trabalho em serviços essenciais, o que pode gerar exposição ao vírus. Diante de tantos desafios que incluem os diferentes padrões de isolamento social que foram adotados durante a pandemia, além da falta de garantia de adesão populacional ao isolamento, há uma dificuldade em realizar análises mais conclusivas sobre o benefício do isolamento social no contexto da covid-19. De qualquer forma, as evidências científicas disponíveis já apontavam que havia benefícios, se bem implementado e com outras medidas de prevenção adotadas simultaneamente.
Portanto, ao questionar a importância do isolamento social no contexto da pandemia, caracterizando o isolamento como “falta de coragem”, Bolsonaro atuou contra as evidências científicas, colocando em risco a vida de milhares de brasileiros e brasileiras.
Fontes
Alfano V, Ercolano S. The efficacy of lockdown against covid-19: a cross-country panel analysis. Appl Health Econ Health Policy. 2020. | Buitrago-Garcia D et al. Occurrence and transmission potential of asymptomatic and presymptomatic SARS-CoV-2 infections: A living systematic review and meta-analysis. PLoS Med. 2020. | Day T et al. When is quarantine a useful control strategy for emerging infectious diseases? Am J Epidemiol. 2006. | Ferguson NM et al. Report 9: Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID-19 mortality and healthcare demand. Imperial College Covid-19 Response Team. 16 mar 2020. | Kucharski AJ et al.; CMMID Covid-19 working group. Effectiveness of isolation, testing, contact tracing, and physical distancing on reducing transmission of SARS-CoV-2 in different settings: a mathematical modelling study. Lancet Infect Dis. 2020. | Nussbaumer-Streit B et al. Quarantine alone or in combination with other public health measures to control covid-19: a rapid review. Cochrane Database Syst Rev. 2020. | Vinceti M et al. Lockdown timing and efficacy in controlling covid-19 using mobile phone tracking. EClinicalMedicine. 2020. | WHO, World Health Organization. Modes of transmission of virus causing covid-19: implications for IPC precaution recommendations. Scientific Brief. 26 mar 2020.