Descrição
Arthur Weintraub, então assessor especial da Presidência da República, publicou em seu perfil no Instagram uma captura de tela de um um tweet questionando a base científica do isolamento social. Em sua publicação, ele argumenta que, se o isolamento fosse eficaz, médicos também deveriam ser isolados, já que estão mais expostos ao vírus.
Até essa data, registravam-se 106.523 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
Arthur Weintraub, então assessor especial da Presidência da República, publicou em seu perfil no Instagram uma captura de tela de um um tweet questionando a base científica do isolamento social. Em sua publicação, ele argumenta que, se o isolamento fosse eficaz, médicos também deveriam ser isolados, já que estão mais expostos ao vírus.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
106523
Dados da fonte de informação
Data da publicação
14 de agosto de 2020
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
Perfil no Instagram de Arthur Weintraub
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O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
A publicação de Arthur Weintraub em suas redes sociais sugerindo que o isolamento social não tem base científica, utilizando como argumento o fato de que médicos são os mais propensos ao contágio, é equivocada e desconsidera as evidências científicas que comprovam a eficácia do isolamento social no controle de doenças transmissíveis por via respiratória, como a covid-19.
Desde o início da pandemia, autoridades de saúde de todo o mundo adotaram o isolamento social como uma das principais estratégias para conter a disseminação do SARS-CoV-2, o vírus causador da covid-19. Isso porque a doença é transmitida principalmente por gotículas de saliva e aerossóis, que são liberados quando uma pessoa infectada fala, tosse ou espirra. Ao reduzir os contatos sociais, diminui-se a circulação do vírus, interrompendo a cadeia de transmissão.
Estudos científicos demonstraram que o isolamento social foi crucial para reduzir a alta taxa de reprodução do vírus (Rt) (que reflete a transmissão elevada da doença), especialmente quando combinado com outras medidas, como o fechamento de escolas, comércio e empresas e a restrição de aglomerações. Medidas mais rigorosas, como o lockdown, mostraram-se ainda mais eficazes em conter a disseminação do vírus. Essas evidências foram obtidas por meio de modelagens matemáticas e análises epidemiológicas, confirmando a importância do isolamento para reduzir a incidência de casos e a mortalidade durante a pandemia.
Embora médicos e outros profissionais de saúde estejam entre os grupos mais expostos ao contágio, isso não invalida a eficácia do isolamento social, apenas reforça a necessidade de medidas complementares de proteção. Profissionais de saúde são essenciais no combate à pandemia e, por isso, não podem se isolar. Em vez disso, eles devem utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) adequados, como máscaras, jalecos e óculos de proteção, além de seguir rigorosos protocolos de higienização das mãos e desinfecção de ambientes.
A exposição dos médicos ao vírus não é uma falha do isolamento social, mas sim uma consequência inevitável de sua função em um contexto de crise sanitária. A proteção desses profissionais depende justamente da adoção de medidas coletivas, como o isolamento social, que reduz a circulação do vírus e, consequentemente, a carga de trabalho e o risco de exposição para os profissionais de saúde.
Um dos principais objetivos do isolamento social durante a pandemia foi evitar o colapso dos sistemas de saúde. Ao reduzir a transmissão do vírus, o isolamento permitiu que hospitais e unidades de saúde tivessem capacidade para atender os casos mais graves, sem sobrecarregar os profissionais ou os recursos disponíveis. Em países onde o isolamento foi adotado de forma precoce e eficaz, os sistemas de saúde conseguiram lidar melhor com a crise, resultando em menores taxas de mortalidade.
No Brasil, infelizmente, a falta de uma governança unificada e a divergência entre as medidas sanitárias preconizadas e as ações do governo federal levaram a um aumento descontrolado de casos e óbitos. O país registrou mais de 700 mil mortes por covid-19, um número que poderia ter sido menor com a adoção consistente do isolamento social e outras medidas de prevenção.
A afirmação de que o isolamento social não tem base científica é desprovida de fundamento e desconsidera as evidências acumuladas ao longo do tempo, incluindo as evidências acumuladas sobre a prevenção de transmissão de vírus respiratórios. O isolamento social é uma medida comprovadamente eficaz para reduzir a transmissão de doenças infecciosas transmitidas pelo ar, como a covid-19, e foi essencial para salvar vidas e proteger os sistemas de saúde.
Fontes
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