Descrição
Anthony Wong desinforma ao dizer que tratamento precoce é fundamental e que, segundo o Instituto Oxford de Medicina Baseada em Evidências, a hidroxicloroquina tem evidência 1A e 1B. Além disso, ele afirma que “certas sociedades de medicina” esqueceram do juramento hipocrático ao não recomendarem o tratamento precoce.
Até essa data, registravam-se 158.456 óbitos pela covid-19.
Dados do site https://covid.saude.gov.br
Informações Gerais
Descrição
Anthony Wong desinforma ao dizer que tratamento precoce é fundamental e que, segundo o Instituto Oxford de Medicina Baseada em Evidências, a hidroxicloroquina tem evidência 1A e 1B. Além disso, ele afirma que “certas sociedades de medicina” esqueceram do juramento hipocrático ao não recomendarem o tratamento precoce.
Tipo da evidência
Formato
Atores envolvidos
Agentes institucionais envolvidos
Número de óbitos registrados na época em que este fato aconteceu
158456
Dados da fonte de informação
Data da publicação
28 de outubro de 2020
Título original
Comissão externa debate imunidade de rebanho na pandemia de Covid-19 – 28/10/2020
Fonte de coleta (Dados da fonte de informação)
Câmara dos Deputados
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O que diz a ciência
Conteúdo sobre o que diz a Ciência
Em reunião técnica da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, acerca da imunidade de rebanho, Anthony Wong afirma que o tratamento precoce é fundamental para o combate ao SARS-CoV-2 e refere que, segundo o Instituto Oxford de Medicina Baseada em Evidências, a hidroxicloroquina possui evidência 1A e 1B (ou seja, com alta qualidade de evidência e forte/moderado grau de recomendação). Além disso, Anthony Wong afirma que não tratar precocemente com os medicamentos seria configurado como “assassinato e genocídio” e que os médicos e as sociedades médicas que não prescrevessem e incentivassem o tratamento precoce estariam indo contra o juramento hipocrático.
No entanto, essa afirmação é equivocada, pois em 2020 já existiam estudos de qualidade mostrando o oposto, apontando a falta de eficácia da hidroxicloroquina e outros medicamentos do tratamento precoce da covid-19. Ao contrário do que Wong afirma, o Centre for Evidence-Based Medicine ligado à Universidade de Oxford (que ele chama no vídeo de Instituto Oxford de Medicina Baseada em Evidências), não recomendava o tratamento com cloroquina e hidroxicloroquina. O instituto reconheceu, em março de 2020, que os estudos in vivo não traziam resultados suficientes para tal recomendação e sugeria que mais estudos de melhor qualidade deveriam ser realizados para avaliar a eficácia do medicamento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, também em 2020, que não havia evidências robustas para o uso de hidroxicloroquina no tratamento da doença e ainda recomendou cautela quanto ao uso do medicamento, suspendendo inclusive os testes com hidroxicloroquina devido à falta de eficácia e aos riscos potenciais. Isso porque os riscos associados ao uso de hidroxicloroquina já eram conhecidos, pois na própria bula do medicamento há a descrição do risco de arritmias como evento adverso grave. Considerando que a própria covid-19 já provoca alterações cardiovasculares, o desenvolvimento de uma arritmia maligna por conta do uso do medicamento poderia agravar o quadro clínico de pacientes com a doença. Além disso, desde 2020, já havia evidências que apontavam um aumento da mortalidade com o uso de hidroxicloroquina na covid-19.
Não bastasse os alertas da OMS, ainda em 2020, a comunidade científica e as sociedades médicas também já alertavam sobre a falta de evidências para utilização de hidroxicloroquina. O consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), publicado na Revista Brasileira de Terapia Intensiva em 15 de julho de 2020, desaconselhava o uso de hidroxicloroquina para covid-19. A recomendação baseou-se em uma revisão sistemática de estudos atualizada até abril de 2020, que concluiu que não havia evidências robustas para apoiar a utilização do medicamento. Ademais, um estudo publicado na New England Journal of Medicine sobre o uso de hidroxicloroquina com ou sem azitromicina para covid-19 concluiu que essas terapias não melhoraram o estado clínico dos pacientes com covid-19 leve a moderada em comparação com o tratamento padrão (suporte ventilatório e oxigenação). O estudo também observou efeitos colaterais, como alterações cardíacas (prolongamento do intervalo QT, o que pode levar a arritmias) e hepáticas.
Por fim, é importante destacar também que, em 2025, houve a retratação do estudo liderado por Didier Raoult, que embasou a utilização da hidroxicloroquina na covid-19 e que tinha sido publicado em 2020 na revista International Journal of Antimicrobial Agents. A remoção do artigo se deu devido à má conduta científica. Estudos como esse, com falhas metodológicas, não podem ser utilizados como base de políticas de saúde e sequer de recomendações médicas. A ética médica exige que a prática da medicina seja pautada não em algumas poucas evidências, mas sim no acúmulo de evidências robustas, que são obtidas em condições experimentais adequadas, assim como nos consensos das comunidades científica e médica.
Fontes
Cavalcanti AB et al. Hydroxychloroquine with or without azithromycin in mild-to-moderate covid-19. New England Journal of Medicine. 2020. | Falavigna M et al. Diretrizes para o tratamento farmacológico da covid-19. Consenso da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Rev Bras Ter Intensiva. 2020. | Fihn SD et al. Caution needed on the use of chloroquine and hydroxychloroquine for coronavirus disease 2019. JAMA Netw Open. 2020. | Frie K; Gbinigie K; Oxford Covid-19 Evidence Service Team. Chloroquine and hydroxychloroquine: Current evidence for their effectiveness in treating covid-19. Centre for Evidence-Based Medicine. University of Oxford. 2020. | Nota Pública: CNS alerta sobre os riscos do uso da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. 22 mai 2020. | Notice of retraction. Gautret P et al. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of covid-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International Journal of Antimicrobial Agents. 2020 | PAHO, Pan American Health Organization. Covid-19: Chloroquine and hydroxychloroquine research. Rapid Review. 8 mai 2020. | Rey LD et al. Prolongamento do intervalo QT do eletrocardiograma em pacientes reumáticos usando antimaláricos. Revista Brasileira de Reumatologia. 2003. | WHO Solidarity Trial Consortium. Repurposed Antiviral Drugs for Covid-19 - Interim WHO Solidarity Trial Results. N Engl J Med. 2021.