Anthony Wong diz que o lockdown é mais devastador para o Brasil do que os efeitos do vírus

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A crítica do pediatra e toxicologista Anthony Wong sobre o lockdown em uma audiência online da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19, promovida pela Câmara dos Deputados com médicos que criticavam o isolamento social, não é embasada em evidências científicas. Embora o médico afirme que “estudos recentes mostraram que os efeitos do lockdown, os danos do lockdown, são 10 vezes maiores que os danos da pandemia”, os estudos em questão não foram apresentados por Wong durante a audiência. Apesar de o lockdown ser uma medida que pode gerar impactos significativos na economia, sua implementação tornou-se necessária diante de uma doença nova e de caráter pandêmico, sobre a qual havia escasso conhecimento científico. Nesse contexto, com a alta taxa de transmissão e o aumento acelerado de casos e óbitos em diversos países, a covid-19 representava uma ameaça potencialmente muito mais grave do que as consequências do isolamento social.
Na infectologia, há um consenso de que doenças com transmissão de pessoa para pessoa podem ser prevenidas evitando-se o contato com indivíduos infectados. No caso da covid-19, desde o início da pandemia, já se sabia que a infecção poderia se manifestar de formas variadas: desde sintomas leves ou quase imperceptíveis até casos assintomáticos e quadros graves, incluindo complicações potencialmente fatais. Essa diversidade de apresentações clínicas destacou a dificuldade de identificar e isolar todos os casos, uma vez que indivíduos assintomáticos ou com sintomas leves poderiam, inadvertidamente, disseminar o vírus.
Foi com base nessas evidências que a aplicação do isolamento social para toda a população foi considerada essencial. A permanência em casa visava interromper a cadeia de transmissão, reduzindo o contato entre pessoas e, consequentemente, a propagação do vírus. Nesse sentido, o lockdown emergiu como uma medida mais restritiva, recomendada em situações de aumento descontrolado de casos. Estudos realizados em diversos países comprovaram a eficácia dessa estratégia no controle rápido da disseminação da covid-19. Métodos como o rastreamento da localização de celulares, comparado ao número de novos casos e óbitos, demonstraram que o lockdown foi eficaz em reduzir a circulação de pessoas e, com isso, a transmissão do vírus.
Em setembro de 2020, um mês antes da audiência da qual Wong participou, já existiam estudos consolidados sobre a eficácia da combinação de quarentena com outras medidas de controle sanitário. A ciência já apontava que estratégias combinadas, como o fechamento de escolas e o distanciamento social, eram mais eficazes na redução de novos casos, transmissões e mortes. Esses modelos integrados de prevenção mostraram-se fundamentais para conter a propagação da doença, especialmente em cenários de alta transmissão comunitária.
Portanto, as críticas de Anthony Wong carecem de embasamento científico sólido, uma vez que ele não apresentou os estudos que supostamente sustentariam sua afirmação de que os danos do lockdown superariam os da pandemia. Já, a implementação do isolamento social e de medidas mais restritivas, como o próprio lockdown, foi fundamentada em evidências robustas que demonstravam sua efetividade no controle da disseminação do vírus, especialmente diante de um cenário de alta transmissão comunitária e de uma doença ainda pouco compreendida. As estratégias combinadas foram essenciais para reduzir casos, transmissões e óbitos. Embora o lockdown possa gerar impactos socioeconômicos significativos, sua adoção foi uma resposta necessária e proporcional à gravidade da crise sanitária, visando proteger vidas e evitar o colapso dos sistemas de saúde.