A pesquisa “Necrossistema na pandemia de covid-19 no Brasil: acervo de evidências e mapa multimídia” é uma iniciativa do Centro SoU_Ciência da Unifesp, em parceria com a (AVICO Brasil), o CEPEDISA/USP e os grupos de mídia independentes Medo e Delírio em Brasília e Camarote da República. O projeto visa contribuir com o estudo e a divulgação de informações relacionadas a ações e conteúdos que impactaram a percepção e a opinião pública brasileira durante a pandemia de covid-19 nos campos da saúde pública e da ciência.
Os estudos do negacionismo científico e dos discursos e das condutas negacionistas na pandemia têm como objetivos gerais:
- descrever e interpretar como agentes e instituições atuaram na pandemia de covid-19 contra as evidências científicas, a ética médica e a gestão eficaz da política pública, comprometendo a garantia do direito à vida para os cidadãos e resultando em mais de 700 mil mortes — a maior catástrofe da história da saúde pública no Brasil;
- coletar, organizar e indexar documentos em textos, vídeos e áudios de manifestações públicas de agentes e instituições, e denúncias de condutas negacionistas;
- disponibilizar este acervo para consulta a todos os interessados, por meio de repositório digital da Unifesp, com acesso livre e gratuito;
- produzir materiais de comunicação e divulgação científica apresentando as manifestações públicas de agentes e instituições que constituíram um necrossistema na pandemia, incluindo a elaboração de um mapa multimídia informativo sobre tais agentes e seus interesses políticos;
- colaborar com outras instituições na produção de materiais, relatórios, campanhas, revisão de currículos universitários, construção de memoriais físicos e digitais, entre outras ações, para que tais tragédias e condutas não voltem a acontecer;
- participar de ações de justiça, reparação, memória e revisão de condutas em relação aos acontecimentos da pandemia de covid-19 no país.
O material coletado, arquivado e disponibilizado na forma de acervo público e mapa multimídia busca contribuir com o debate público e gerar novas colaborações, incluindo: campanhas pró-vacina e em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e da ciência; apoio a processos judiciais e de reparação, que podem se beneficiar do uso dessas evidências; ações de memória, museais e educativas; iniciativas curriculares, para extrair aprendizados da pandemia para novos profissionais; além de servir como base para pesquisas de futuros historiadores que se debruçarão sobre esses anos terríveis da história brasileira.
A Pesquisa
Na construção e na permanente ampliação deste repositório e acervo, o projeto busca respostas para as seguintes perguntas:
- A conduta dos agentes e das instituições na pandemia de covid-19 no Brasil, contra as evidências científicas, a ética médica, a gestão eficaz da política pública, foi uma ação coordenada ou aleatória?
- Se a ação foi coordenada, como foi estabelecido um sistema relacional de influências diretas e indiretas entre agentes, instituições, narrativas e condutas ao longo da pandemia?
- Quais foram os objetivos específicos e comuns dos agentes e das instituições, em relação a ganhos políticos, econômicos e de visibilidade?
- Quais responsabilidades éticas, científicas, administrativas e de saúde pública foram atacadas e comprometidas?
- Quais foram as evidências e os documentos comprobatórios dessas condutas?
- Qual é a melhor forma de apresentar essas evidências e esses documentos a um amplo público interessado no tema e à sociedade em geral?
- Qual é a melhor forma de apresentá-los a profissionais, pesquisadores, professores, gestores e parlamentares para que contribuam com ações efetivas e políticas públicas para que tais condutas não se repitam?
- Para cada grupo de agentes e instituições/entidades em estudo, temos feito as seguintes perguntas:
- Quem faz (ou fez) parte? Quem são (ou eram)?
- Quais interesses defendem (ou defendiam)?
- Como atuam (ou atuavam)?
- Quem são (ou eram) os financiadores? Quais são os ganhos financeiros estimados dos agentes/instituições?
- Como agentes, instituições e financiadores atuam (ou atuavam) e como se relacionam (ou se relacionavam)?
- Como são (ou eram) feitas as manifestações públicas (falas, manifestos, resoluções etc.)?
Metodologia
A pesquisa, orientada por metodologias qualitativas e quantitativas, envolve a revisão bibliográfica sobre o tema, com destaque para os estudos do negacionismo científico e médico no Brasil e sobre seus impactos na condução da crise pandêmica, nas entidades e organizações médicas, e também na opinião pública brasileira, em especial sobre a temática da vacinação. O projeto também inclui a realização de entrevistas em profundidade, com roteiros semiestruturados, com médicos e médicas, pesquisadores e pesquisadoras e integrantes de organizações da sociedade civil, atuantes no enfrentamento de violações e crimes cometidos durante a pandemia.
O trabalho em equipe multidisciplinar e a curadoria coletiva são a base fundamental para a construção deste acervo público, que se dá por meio de coleta, seleção, análise, indexação e arquivamento de evidências que tratam de:
1 – discursos e condutas, com falas, manifestações, documentos de caráter negacionista e que evidenciam omissões, pseudociência, charlatanismo, entre outros;
2 – denúncias de condutas e discursos de agentes políticos, obtidas em documentos, relatórios e entrevistas realizadas com pesquisadores e pesquisadoras e cientistas.
O material está organizado em duas frentes de entrada de informações, que são complementares, e estão disponíveis para buscas:
- Por Agentes Institucionais: autores de declarações, documentos, postagens e manifestações de diversas naturezas, classificados por tipo de agente institucional e, no interior destes, estão designadas pessoas físicas que nominalmente assinaram ou foram enunciadoras do material arquivado e disponibilizado. Foram definidos 16 tipos de agentes institucionais.
- Por Temas: que caracterizam a narrativa e a conduta de caráter negacionista. Definimos 17 temas relevantes para classificação do material coletado, disponibilizados para pesquisa.
O material está arquivado em dois formatos, quando disponíveis:
- na íntegra, no banco de dados, acessível para o trabalho de pesquisadores e para mineração e buscas com novas filtragens, categorias e objetivos;
- em trechos selecionados, disponíveis para divulgação pública, estratégias de comunicação e campanhas, que tenham a força de síntese das narrativas, condutas e mentalidades, que prosperaram e ampararam a necropolítica.
A coleta, com a colaboração de parceiros, tem sido realizada em materiais disponibilizados em sites, redes sociais, canais de áudio, vídeo e publicações de acesso público. Os documentos são indexados com metadados para a sua correta identificação, recuperação e citação.
Os materiais que constituem evidências importantes, mas que não estão mais acessíveis em sua postagem original, e que foram coletados e publicados no archive.org por internautas e coletivos de mídia, também foram incluídos no acervo. O apagamento das evidências é parte do modus operandi daqueles que receiam ser imputados por suas ações e declarações, compondo parte do necrossistema na pandemia de covid-19 no Brasil.
Há também um quadro para cada tema do acervo denominado “O que diz a ciência”, com referências de evidências científicas. Essa frente de pesquisa dedica-se à construção de um módulo complementar sobre as evidências científicas para cada desinformação e mentira revelada nas evidências da necropolítica. Essa parte do acervo qualifica sua intenção pedagógica e de divulgação científica, trazendo informação embasada cientificamente, com referências e orientações para a população sobre os temas.